sábado, 5 de setembro de 2009

Celular

Estava atrasado para o curso de Teatro e ainda precisava tomar banho. Abri a porta do armarinho do banheiro e coloquei meu celular lá dentro, com pressa. Ele escorregou e caiu. No que tentei pegá-lo no ar, ele bateu na minha mão e voou pra dentro da privada.

Ele acendeu sua luz azul e iluminou o vaso sanitário como um aquário marinho. Foi até bonito!


Mas, eu precisava ser rápido se quisesse salvá-lo. O valor sentimental que ele carregava era muito maior do que o seu valor em dinheiro. Imediatamente, enfiei a mão lá dentro e o retirei “ainda com vida”.

Desesperado, peguei a primeira coisa que vi na frente para enxugá-lo. Quando me dei conta de que era uma toalha de rosto, saí voando para a cozinha e joguei o celular na mesa.

Tá certo que a água estava limpa, mas, não deixava de ser a água de uma privada.

Só sei que quanto mais corria, mais cagadas eu fazia.

Abri o celular, retirei a bateria e coloquei tudo na janela pra secar. Peguei a toalha de rosto e joguei fora. Na mesa passei álcool gel, detergente e desinfetante.

Tomei banho, troquei de roupa e fui pro curso. Quando cheguei na esquina de casa, lembrei do celular. Voltei correndo. Encaixei a bateria e liguei. Ele deu alguns apitos como se estivesse engasgado, mas, acabou funcionando. Saí rapidamente e quando estava quase chegando no ponto de ônibus, o “maldito” passou.

Resolvi usar a minha raiva pra subir a pé mesmo.

O celular tocou. Era a minha mulher.

- Sabe o que eu tava pensando?

- O quê?

- Você vai achar que é desnecessário, mas deixa eu terminar de falar.

De repente, fui atravessar uma esquina e uma bicicleta que vinha na contramão a 300 km/h bateu no meu braço jogando o celular longe. Quando o cara já tava lá nos Cafundós do Judas, virou pra trás e disse:

- Desculpa aí!

Pensei: “Cacete! Será que a Volta Ciclística de São Paulo tá passando aqui em Atibaia de novo?”


Abaixei pra pegar o celular. Cadê? Era noite e a luz do poste estava queimada. Continuei procurando e encontrei o que mais temia: um bueiro. Comecei a pensar no pior.

Um tiozinho, dono de uma loja, que havia assistido a tudo, apareceu com uma lanterna. Chegamos perto do bueiro e o iluminamos. Ufa! Não havia caído lá dentro. Agradeci ao bom homem e já estava recomeçando a minha procura quando vi um mendigo sair andando com um celular na mão muito parecido com o meu.

- Ei!

O cara nem deu bola. Corri até ele e disse:

- Esse celular é meu.

- Prova!

Puta merda! Essa resposta eu não esperava. Não tinha jeito, eu teria que negociar com ele.

- Cara, eu te dou uma grana e você me devolve o celular. Pelo amor de Deus! Ele é velho, mas ganhei de presente da minha mulher. Se eu aparecer sem ele, ela vai ficar muito chateada e...

- Quanto você tem aí?

- Hã? R$10,00.

- O quê? Cê tá pensando que eu sou otário. Esse celular vale bem mais do que isso.


- Cara, pelo amor de Deus!

- Mostra a carteira!

- Não!

- Mostra!

- Te dou R$30,00.

- Humm. Tá melhorando.

- R$50,00 e não se fala mais nisso.

- Fechado.

Quando fui dar a grana pro cara, o senhor da lanterna gritou:

- Achei!

Olhei pro mendigo com o olhar fuzilante. Ele encolheu os ombros, abriu os braços e disse:

- Ah, se esse celular não é seu, então é do cara que te atropelou de bicicleta. Eu vi cair no chão.

Voltei pra pegar meu celular. Agradeci mais uma vez o senhor e segui pro meu curso. Tentei ligar pra minha esposa pra retomarmos a conversa.

Seus créditos expiraram”.

Parei num orelhão. Quebrado. Outro, também. Só 5 orelhões depois consegui ligar pra ela. Caixa postal.

Fui pro curso. Mais tarde, quando cheguei em casa, minha esposa já estava dormindo. O que era muito estranho, já que ela sempre me espera chegar. Tentei acordá-la.

- Hummm! Amanhã a gente conversa – ela disse.

No outro dia, ela estava de cara fechada. Perguntei o que estava acontecendo.

- Ontem você desligou o celular na minha cara e ainda pergunta!

- Não desliguei na sua cara. É que...

Contei toda a história. Quando terminei, ela retomou o assunto do dia anterior:

- Então, como eu tava dizendo ontem: sabe o que eu tava pensando em te dar de presente de casamento?

- Um carro?

- Não. E não adianta você dizer que não precisa, que é besteira. Eu quero te dar isso. Pronto e acabou!

- Não vai me dizer que é uma bicicleta de corrida?

- Pára de palhaçada! Promete que não vai reclamar?

- Prometo! Diz logo o que é!

- Seu presente é...

- Já sei! Aliás, quem tá lendo essa história também já sabe.

- O que é então?

- Um celular.

- Errou! É um CD do Latino.


- O quê?????!!!!!

- Tô brincando. É um celular mesmo.

8 comentários:

  1. Hahaha
    Depois de derrubar o celular na privada, vc ainda perdeu 50 reais pra um mendigo!

    Por isso que celular é um mal necessário!

    Adorei a figura do mendigo com notebook!

    Ri demais!

    Parabens!

    Abraço Paulo!

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  2. P.S. se depois de tudo vc tivesse ganho mesmo o cd do latino, aí sim fecharia o dia com chave de bosta.

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  3. Karen, o celular é um mal necessário mesmo. E na hora que a gente mais precisa, ou acaba o crédito, ou acaba a bateria ou não tem sinal.
    Abraço!

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  4. Ledier (Ricardão), se ela me desse mesmo o CD do Latino, eu encararia como um pedido indireto de separação.
    Abraço!

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkkk
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    "olhar fuzilante pro mendigo"
    kkkkkkkkkkkkkk
    muito bom!!

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