A desgraça número 3 na vida do leiturista de luz é... CHUVA! (Veja AQUI as outras 2).
Imagina a situação:
Você é leiturista de luz. Acorda na segunda-feira de manhã e descobre que está chovendo. Não há escolha: veste o uniforme, a capa de chuva por cima e a mochila pendurada de lado. Segura o guarda-chuva e o aparelho de leituras na mesma mão, porque na outra, você precisa segurar a canetinha pra digitar as leituras.
O vento é tão forte que vira o guarda-chuva do avesso 3 vezes seguidas, o que é o suficiente pra quebrar duas varetas e também pra você sentir vontade de quebrar aquele chinês que te garantiu que o guarda-chuva dele era bom.
Assim que o guarda-chuva quebra, a chuva aumenta muito, lógico! Você procura um lugar pra se esconder, mas, não há um só toldo ou telhado que possa te servir de abrigo naquela rua.
Pra melhorar, a rua é de terra.
O jeito é continuar trabalhando.
Você abre a tampa de um relógio pra fazer a leitura e ele está totalmente embaçado por causa da chuva.
Na casa seguinte, o relógio de energia fica dentro da garagem e você tem que olhar a leitura pelo furo no portão. Impossível! Por causa do tempo chuvoso, a garagem está muito escura e não dá pra enxergar a leitura. Você toca a campainha, mas, ninguém está em casa.
Você começa pensar: “Meu Deus, quantas leituras eu vou ter que pegar quando voltar aqui amanhã?”
Não devia ter perguntado!
À sua frente há uma sequência de pelo menos 15 casas com relógio de luz digital. Quando você chega no primeiro deles pra marcar a luz, dá um raio e acaba a luz da rua. Consequentemente, os relógios digitais se apagam.
A chuva fica cada vez mais forte. Pra atravessar a rua sem molhar os pés é quase impossível: a enxurrada é mais larga que o Rio Amazonas.
Só há duas opções: vestir um escafandro e mergulhar ou abrir o guarda-chuva e voar feito a Mary Poppins.
Como seu guarda-chuva está quebrado e você não tem um escafandro, você arrisca dar um salto sobre a água.
Você cai em cima de alguma coisa gelatinosa. Olha pro chão e descobre que matou um lambari com os pés.
O temporal é tão forte que a impressão que se tem é de que a qualquer momento a Arca de Noé vai cruzar a esquina.
Sua roupa está encharcada e pesa mais que costeiro de travesti rica no Carnaval do Rio.
A cada segundo de trabalho, você tem mais certeza de que odeia chuva!
Na última casa da rua, o relógio fica do lado de dentro. Você bate no portão e uma empregada atende:
- Pois não!
- É a leitura da luz.
- Só um minuto.
A empregada abre o portão. Lá de dentro, a dona da casa, enrolada num edredom, tomando café quente, beliscando bolachinhas amanteigadas, estirada numa “poltrona do papai”, diz:
- Oi, moço. Chuvinha boa, não?
Se controlando pra não mandar ela tomar no meio do rabo, você diz:
- A senhora me desculpe, mas, pra mim não tá boa não!
- Que isso, moço?! Fazia mais de dois meses que não chovia. Pense nos pobres agricultores. A gente não pode ser egoísta. Temos que nos colocar no lugar dos outros.
“Temos que nos colocar no lugar dos outros”. É brincadeira?
Você agradece e vai embora.
Claro, depois dessa última leitura é óbvio que a chuva pára. Quando você coloca os pés na calçada, ouve a “madame” gritar lá de dentro:
- Ai, não acredito!
- O que foi, senhora? – a empregada pergunta.
- A energia elétrica voltou de repente e pifou a minha televisão nova de 72 polegadas ! CHUVA DESGRAÇADA! AHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pois é: chuva nos olhos dos outros é refresco!