segunda-feira, 3 de maio de 2010

Conto de Horror





Era 23h45min quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, uma voz rouca e triste de mulher passou o endereço de onde ela estaria esperando.

O taxista Agenor, que parecia ter um GPS na cabeça, estranhou:

- Tem certeza? Esse endereço que você me passou é do cemité . . .

Tarde demais! Ela já havia desligado.

“Vai ver ela está num velório.” – pensou.

Exatamente a meia-noite, Agenor chegou ao local marcado. Não havia ninguém além de uma mulher muito branca, mas, tão branca, que provavelmente tomava banho com Vanish.

- Foi a senhora quem pediu um táxi?

- Sim, mas, não me chame de senhora. Senhora está no céu. E eu ainda vago por aqui.

Agenor, que desceu para abrir a porta do carro para a passageira, sentiu um calafrio.

Mas não de medo, de frio mesmo. Estavam em pleno mês de junho.

- Pra onde você vai?

- Avenida da Saudade.

- Que coincidência, eu moro lá.

Pelo retrovisor, Agenor não conseguia tirar os olhos daquela mulher. Ela tinha uma “comissão de frente” que causaria inveja na Mulher Melão. Mas, não era apenas por isso. Havia algo de misterioso em seu olhar.

Pra puxar conversa, o taxista fez um comentário “muito original”:

- Tá frio hoje, não?

- O senhor já tocou a pele de um cadáver?

- Hã?!

- São mais frios que as noites de inverno!

- A senhora, digo, você já tocou em algum?

- Sim. No meu gato preto que morreu, o Lúcifer.

- Puxa! E ele morreu como? Estava doente?

- Não. Eu o matei.

- Matou?!

- Atropelei-o com o cortador de gramas.

- Caramba?!

- Sabe, quando o peguei no colo ele ainda estava quente. Mas, quando o enterrei, 15 dias depois, parecia uma pedra de gelo.

- Nossa! Mas, porque você demorou tanto para enterrá-lo?

- É que eu fiquei a procura de um empalhador e quando finalmente o encontrei, ele disse que pelas condições em que o gato se encontrava, não seria possível empalhá-lo. O pobrezinho estava retalhado.

- Vixe! E você guardou o gato aonde esse tempo todo?

- Num saco plástico dentro do congelador.

Embora fosse fã do quadro “Lendas Urbanas” do Programa do Gugu, Agenor não acreditava em assombrações. Então só restavam duas alternativas: ou ele estava vendo e ouvindo coisas por causa do estresse de trabalhar muito e dormir pouco, ou aquela mulher era uma maluca.

Maluca ou não, ele estava cada vez mais interessado nela.

Agenor, embora fosse casado, não deixava passar nunca a oportunidade de dar em cima de uma passageira que lhe interessasse. E ele, que não era bonito, mas, tinha um xaveco fenomenal, na grande maioria das vezes conseguia alcançar o seu objetivo.

Depois de ouvir a história do gato, ele começou a usar sua lábia pra tentar seduzir a moça branquela.

Logo que entraram na Avenida da Saudade, ela gritou:

- Pare aqui!

- Aqui? Na casa 14?

- Sim!

- Você deve brincando?

- Por favor, chega desse seu papo furado! Abra a porta pra eu descer.

- Mas, aí é a minha casa!

A moça ficou vermelha feito um sagu de framboesa.

- Ahhhhhhhh! Sua danadinha! Já entendi: você quer conhecer a minha casa? Não é?

Sem saber o que responder, ela disse:

- É!

- Mas não vai dar. A Celinha, minha mulher, está aí. Mas, posso te mostrar a garage se você quiser! Vamo lá?

Agenor partiu pra cima da branquela que desceu correndo e gritando do carro:

- Por favor, não!

- Shiuuuuu! Calma! Você quer acordar os vizinhos? Vem aqui! (tentando beijar a moça)

- Não!

- Você não disse que queria?

- Não posso!

- Ah, vem?

- Não, me deixa!

- Escuta aqui (impaciente e segurando a moça pelo braço) Chega de fazer doce! Porque você não quer?

- Não posso!

- Não pode por quê?

- Porque... Porque... Eu sou... Travesti!

- O quê?!

Agenor largou imediatamente a boneca. Em seguida fechou os punhos e ameaçou dar um soco na cara dela. Mas, acabou desistindo.

- Bem que eu desconfiei. Onde já se viu uma mulher dessa altura? E esses peitos siliconados, então? Suma da minha frente antes que eu arrebente a tua fuça!

A branquela saiu correndo com seu vestido esvoaçante e sem os saltos para ir mais depressa.

Agenor entrou no carro e disse pra si mesmo:

- Quase beijei um travesti! Que horror! Antes fosse uma assombração!




Mas, Agenor nem imaginava que aquela não era a verdade!

A moça alta e branquela não era um travesti, nem tampouco usava silicone.

Ela se chamava Tamiris Brown, era uma norte-americana de 1,93 m de altura e a mais nova pivô do time de basquete da cidade de Itapopoquinha do Norte.

Desde que chegara ao Brasil, há três anos, Tamiris, todas as vezes que precisava sair à noite, usava o método de falar como se fosse maluca, aliado ao seu tamanho incomum para evitar que os homens de todos os tipos se aproximassem.

Já havia sido xingada muitas vezes por isso, de coisas como: bizarra, alma penada, Gasparzinha, Loira do Banheiro entre outros. Mas, era a primeira vez que alguém a havia chamado de “travesti de silicone”.

Mas, não era por isso que ela se encontrava chorando numa cabine telefônica. E sim, porque não havia se encontrado com sua amante tão amada naquela noite: Celinha.

- E aquele homem ainda queria me beijar! Ai que horror!!!

26 comentários:

  1. Primeiro finalmente!!!

    HAHAHAHAHAHAHA'

    Affe Paulo donde você tira tanta história engraçada?
    A parte do gato congelado num saco plástico foi a melhor.

    Abraço!

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  2. Anda lavando roupa? Vanish! rsrs
    Aquela foto que usou, cabe ao conto de horror ou com a descrição de um travesti, ou a que uma lésbica geralmente aparenta?
    Final surpreendente!!
    Demais
    Abraços

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  3. hahahahahaha
    Muito bom!

    O Zé do Caixão bem que poderia interpretar o seu post!
    hahaha

    A foto da Amy Winehouse é a síntese do horror!?

    Abraços,
    Raquel

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  4. uhauhahu

    "Embora fosse fã do quadro “Lendas Urbanas” do Programa do Gugu, Agenor não acreditava em assombrações...."

    uhahuahuahu

    Olha, eu gostaria de te conhecer pessoalmente(com todo o respeito a sua mulher, claro), pq conversar com uma pessoa quem tem essa mente louca como a sua deve render altas viagens, e muitas risadas..rsrs.

    Adoro visitar o seu blog!
    Bjsss

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  5. puxa este post foi bem interessante cm uma pitada de suspense um pouco de terror misturado com humor cara vc está cada vez mais criativo gostei mesmo deste post mais uma vez parabéns bjs paulo

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  6. KKKKKKKKKKK.
    Boa.
    Estratégia eficiente, não?

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  7. num entendii o final ?!?!? shuahushuauhs

    a piadinha do calafrio foi bem pensado n ? suahusahu e meuu ninguem merece as historias do gugu kkk
    e nossa , por um momento eu acrediteii , de verdaade mesmo.
    parabééns pelo conto
    dexo te perguntaa e a continuação do catupiry ?

    abraços =)

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  8. kkkkkkkkkk

    cara, ri muito com esse...

    De onde veio a inspiração?!

    Pra mim, esse foi o melhor de todos os contos.

    rsrsrsrs

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  9. GRANDE LEITURISTA, ENTAO SABADO COMPLETA UM ANO NO BLOG NAO É?

    ANDEI VENDO E SUA POSTAGEM MAIS ANTIGA DATA-SE DE 08/05/2009.

    SE EU NAO PUDER PASSAR AQUI NESSE DIA, MEUS PARABÉNS!!!

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  10. auhuhauhauhauahuha

    Muito bom, no começo fiquei com medo (odeio ler histórias de assombrações, mesmo velhas, sou um tremendo cuzão pra isso) mas depois achei genial.

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  11. Isabela, primeirona, hein?! rs!

    Obrigado pelo elogio!

    Coitado do gato, né?! rs!

    Abraço!

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  12. Juliana, quando eu coloquei no GOOGLE IMAGENS a palavra "HORROR" uma das que apareceu foi essa dai. E, de fato, está um horror mesmo. rsrs!

    Abraço!

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  13. Raquel, imagina o Zé do Caixão interpretando que louco que seria! rs!

    Verdade, a Amy sintetiza bem o horror do conto. rsrs!

    Abraço!

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  14. Talita, obrigado pela "mente louca"! rsrsrs! meu agradecimento é sério, viu! rsrsrs!

    Espero que você continue visitando sempre e gostando, é claro! rs!

    Beijos!

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  15. Suzi, valeu mesmo! Muitas vezes eu escrevo e acho que não está bom, mas aí, vem você e outras pessoas e fazem um elogio bacana. Isso me motiva a escrever sempre mais.

    Obrigado!

    Beijos!

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  16. Ciborgue, verdade! Ela teve que pensar rápido! rs!

    Abraço!

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  17. Mariana, a loira alta não era assombração e nem travesti. Ela era lésbica e amante da Celinha, mulher do taxista. Enquanto ele ficava trabalhando de madrugada, ela ia pra casa do cara ficar com a esposa dele. Só que nesse dia, por azar, ela pegou carona justamente com ele. Como ela não podia dizer que o endereço que ela ia era a casa dele e também tinha que fugir do xaveco dele, ela invetou que era travesti.

    Quanto ao Catupiry, minha ideia não era continuar o conto, mas, como você e outros perguntaram sobre o final, eu acho que já sei como vou fazer. Aguarde! rsrs!

    Abração!

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  18. Laris, rsrs! Puxa, que bom! Olha, sem sacanagem, mas a inspiração veio de um conto do "Lendas Urbanas" que eu assisti. Só que eu acho que eu consegui avacalhar mais do que o Programa do Gugu. rsrs"

    Abraço!

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  19. Ciborgue, Pô, valeu mesmo! E agora que você me lembrou, eu acho que vou ter que preparar uma postagem especial pra esse dia. Meu sábado tá corrido, mas, eu vou dar um jeitinho.

    Abraço!

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  20. :D Se der eu venho conferir no sábado mesmo.Tenho uns compromissos aí, mais acho que mais a noitinha eu consigo :D

    Abraço

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  21. Paulo você colocou a foto da Amy aí pra nós termos uma ideia do que era a "Travesti Siliconada" né.

    KKKKKKKKK

    Beeeijos.

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  22. Isabela, rsrsrs!

    Na verdade, a moça do conto era loira. E não era tão feia assim. rs!

    A Amy eu coloquei só pra ilustrar o horror. rsrs!

    Beijos!

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  23. Nossa Paulo
    Num sei se fico com medo da história ou da foto da Amy
    huahsuahsuashuash

    Excelente criação de texto. Me fez lembrar de uma "lenda urbana" que passou no SBT da morta q pegou carona e sumiu..
    Sinistro, né?

    bjão

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  24. Juh, foi nessa mesmo que eu me inspirei pra escrever. rsrs!

    Beijão!

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Obrigado pelo comentário!

Sugestões de postagem serão bem-vindas!