Nos dias de muito calor, é comum as pessoas mais generosas oferecerem a nós, os leiturista, um copo de água, suco ou refrigerante para nos refrescar.
Às vezes, rola até alguma coisa pra comer.
Um dia, entrei numa pequena chácara para fazer leitura e, na hora de sair, um senhor disse pra eu pegar umas mexericas.
Peguei duas e agradeci.
- Pegue mais! – disse ele.
- Obrigado, essas aqui já dão!
- Que isso, rapai! Pegue mais lá! - falando alto - Peraí que eu pego procê!
Ele então pegou uma sacola enorme das Casas Bahia e começou a encher.
- Senhor, já tá bom.
- Pode levá qui tem bastante.
Eu já estava desesperado. E o homem continuava enchendo o saco.
- Senhor, como eu vou carregar tudo isso?
O velho parou. E me olhando com uma cara de poucos amigos disse:
- Ah, intão dexa aqui.
- Tá certo. Quando eu terminar as leituras, à tarde, volto pra pegar.
- Dexa essas qui tá na sua mão, tamém.
“Ué, mas essas eu posso carregar.”
Pra não contrariar mais aquele senhor, resolvi obedecê-lo. Larguei as duas mexericas ali e continuei o meu trabalho.
Mais tarde, terminado o expediente, cumpri o combinado. E voltei à pequena chácara.
Bati.
- Que cê qué? - disse o senhor, atendendo a porta.
- Oi, eu sou o rapaz que marca a luz. O senhor disse pra eu voltar pra pegar as mexericas.
- Qui mexerica? Num lembro.
- Mas... as mexericas que o senhor apanhou e colocou numa sacola pra mim, hoje de manhã.
- Ah! Na sacola das Casas Bahia? - perguntou sorrindo.
- Isso mesmo. - respondi sorrindo, também.
- Cê num quis, dei pro leiturista da água, qui passo despois.
Dei muita risada. Mas quando vi que ele falava sério, fiquei constrangido.
“Meu Deus, como pode ser tão ignorante e irônico?”
Inconformado, virei às costas e fui embora. De repente, ouvi ele dizendo:
- Ei moço!
- Sim!
- Tóma!
E me fez uma “banana” com o braço!
Não entendi nada. Mas, pelo menos, não fui embora sem levar uma “fruta” pra casa.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Falando em fruta.
Havia uma casa onde, toda vez que eu ia marcar a luz, um senhor educado e simpático, me oferecia café.
Eu nunca aceitava.
Esse senhor também tinha o hábito de sempre me contar alguma coisa da sua vida. E eu, por educação, ouvia. O que atrasava um pouco o meu serviço.
Um dia, contou que veio de São Paulo há um ano e morava sozinho.
Outro dia, disse que adorava dar presentes e que dinheiro não era problema já que havia se aposentado muito bem.
Certa vez, disse que se sentia muito solitário, pois seus amigos não moravam aqui e que eu era muito especial por ouvi-lo.
Durante quase um ano, uma vez por mês foi assim: ele oferecia café, eu recusava. Contava um pedaço de sua vida e eu, pacientemente, ouvia. Tudo isso sempre falando com muita, mas muita educação e simpatia. E fazendo um biquinho pra falar que era muito engraçado.
Num dia muito frio de inverno, ele me ofereceu café e eu resolvi aceitar. Com um sorriso mais largo que o do Coringa ele então, me convidou pra entrar.
- Não, não. Eu espero aqui mesmo. - disse a ele.
- Imagina! Um minuto que você entrar não vai fazer diferença. Faço questão!
Entrei.
Não posso dizer que aquele foi o pior café da minha vida, porque estava muito bom.
O problema foi o “acompanhamento”.
Depois de me contar coisas de sua vida íntima ele olhou de um jeito malicioso pra mim e disse:
- Aceita rosquinha?
- Nã... não! - a voz até falhou. – Já tô de saída.
O homem correu feito uma gazela e parou com os braços e pernas abertos diante da porta dizendo:
- Você não vai embora sem antes provar da minha rosquinha.
Santo arrependimento!
Em 10 segundos, pensei numas duzentas alternativas:
1 - esmurrar aquele homem;
2 - dar uma de Jack Chan, sair correndo e saltar pela janela;
3 - gritar socorro;
4 - chorar;
5 - ...
Olhando fixamente pra ele de punhos cerrados, eu disse:
- Eu não comeria a sua rosquinha nem que fosse a última rosca de todo o mundo!
O homem, então, deixou-se cair chorando copiosamente sobre uma poltrona.
E eu saí dali o mais rápido que pude.
Dias depois, fiquei sabendo que aquele sujeito era um ex-confeiteiro e cozinheiro famoso, especialista em roscas. O homem havia ficado deprimido e falido, desde que nunca mais conseguira vender uma rosquinha sequer, após uma pessoa famosa ter morrido engasgada com uma delas, num evento finíssimo em Brasília.
Às vezes, rola até alguma coisa pra comer.
Um dia, entrei numa pequena chácara para fazer leitura e, na hora de sair, um senhor disse pra eu pegar umas mexericas.
Peguei duas e agradeci.
- Pegue mais! – disse ele.
- Obrigado, essas aqui já dão!
- Que isso, rapai! Pegue mais lá! - falando alto - Peraí que eu pego procê!
Ele então pegou uma sacola enorme das Casas Bahia e começou a encher.
- Senhor, já tá bom.
- Pode levá qui tem bastante.
Eu já estava desesperado. E o homem continuava enchendo o saco.
- Senhor, como eu vou carregar tudo isso?
O velho parou. E me olhando com uma cara de poucos amigos disse:
- Ah, intão dexa aqui.
- Tá certo. Quando eu terminar as leituras, à tarde, volto pra pegar.
- Dexa essas qui tá na sua mão, tamém.
“Ué, mas essas eu posso carregar.”
Pra não contrariar mais aquele senhor, resolvi obedecê-lo. Larguei as duas mexericas ali e continuei o meu trabalho.
Mais tarde, terminado o expediente, cumpri o combinado. E voltei à pequena chácara.
Bati.
- Que cê qué? - disse o senhor, atendendo a porta.
- Oi, eu sou o rapaz que marca a luz. O senhor disse pra eu voltar pra pegar as mexericas.
- Qui mexerica? Num lembro.
- Mas... as mexericas que o senhor apanhou e colocou numa sacola pra mim, hoje de manhã.
- Ah! Na sacola das Casas Bahia? - perguntou sorrindo.
- Isso mesmo. - respondi sorrindo, também.
- Cê num quis, dei pro leiturista da água, qui passo despois.
Dei muita risada. Mas quando vi que ele falava sério, fiquei constrangido.
“Meu Deus, como pode ser tão ignorante e irônico?”
Inconformado, virei às costas e fui embora. De repente, ouvi ele dizendo:
- Ei moço!
- Sim!
- Tóma!
E me fez uma “banana” com o braço!
Não entendi nada. Mas, pelo menos, não fui embora sem levar uma “fruta” pra casa.
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Falando em fruta.
Havia uma casa onde, toda vez que eu ia marcar a luz, um senhor educado e simpático, me oferecia café.
Eu nunca aceitava.
Esse senhor também tinha o hábito de sempre me contar alguma coisa da sua vida. E eu, por educação, ouvia. O que atrasava um pouco o meu serviço.
Um dia, contou que veio de São Paulo há um ano e morava sozinho.
Outro dia, disse que adorava dar presentes e que dinheiro não era problema já que havia se aposentado muito bem.
Certa vez, disse que se sentia muito solitário, pois seus amigos não moravam aqui e que eu era muito especial por ouvi-lo.
Durante quase um ano, uma vez por mês foi assim: ele oferecia café, eu recusava. Contava um pedaço de sua vida e eu, pacientemente, ouvia. Tudo isso sempre falando com muita, mas muita educação e simpatia. E fazendo um biquinho pra falar que era muito engraçado.
Num dia muito frio de inverno, ele me ofereceu café e eu resolvi aceitar. Com um sorriso mais largo que o do Coringa ele então, me convidou pra entrar.
- Não, não. Eu espero aqui mesmo. - disse a ele.
- Imagina! Um minuto que você entrar não vai fazer diferença. Faço questão!
Entrei.
Não posso dizer que aquele foi o pior café da minha vida, porque estava muito bom.
O problema foi o “acompanhamento”.
Depois de me contar coisas de sua vida íntima ele olhou de um jeito malicioso pra mim e disse:
- Aceita rosquinha?
- Nã... não! - a voz até falhou. – Já tô de saída.
O homem correu feito uma gazela e parou com os braços e pernas abertos diante da porta dizendo:
- Você não vai embora sem antes provar da minha rosquinha.
Santo arrependimento!
Em 10 segundos, pensei numas duzentas alternativas:
1 - esmurrar aquele homem;
2 - dar uma de Jack Chan, sair correndo e saltar pela janela;
3 - gritar socorro;
4 - chorar;
5 - ...
Olhando fixamente pra ele de punhos cerrados, eu disse:
- Eu não comeria a sua rosquinha nem que fosse a última rosca de todo o mundo!
O homem, então, deixou-se cair chorando copiosamente sobre uma poltrona.
E eu saí dali o mais rápido que pude.
Dias depois, fiquei sabendo que aquele sujeito era um ex-confeiteiro e cozinheiro famoso, especialista em roscas. O homem havia ficado deprimido e falido, desde que nunca mais conseguira vender uma rosquinha sequer, após uma pessoa famosa ter morrido engasgada com uma delas, num evento finíssimo em Brasília.
eita rosquinha feia...kkkkk
ResponderExcluirMuito boas, suas histórias de leiturista!
ResponderExcluir=D
Ai não dá pra creditar, parece piada! Eu ri muuuuuuuuiiiiiiiiitoooooo
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