Hoje, fui fazer leitura de luz numa cidade vizinha à Atibaia. No meio do roteiro, bati palmas numa casa e o mesmo tiozinho que me atende há 4 anos perguntou:
- Ah, é você que tá fazendo leitura aqui hoje?
- Sim. – respondi tranquilamente. Embora minha vontade fosse responder:
“- Não. Eu sou o CLONE do leiturista que veio no mês passado. Tá ligado naquela novela do Vale a Pena Ver de Novo?”
Esse tiozinho, todos os meses, me faz as mesmas perguntas. Sinceramente eu não sei se é carência misturada com falta de assunto ou se ele sofre algum tipo de amnésia parecida com a da moça do filme “Como se fosse a primeira vez”, que, aliás, passou hoje na Sessão da Tarde.
Enquanto eu fazia a leitura, ele perguntou:
- Você é de Atibaia?
Bom, se ele perguntou se eu sou especificamente de Atibaia é porque eu mesmo já falei pra ele outras vezes que sou de Atibaia. E se ele sabe que sou de Atibaia, por que ele me pergunta se eu sou de Atibaia?
Respondi:
- Sim, de Atibaia.
Embora quisesse responder:
“- Não, sou de Marte. Mas, a minha mãe, que é mulher, é de Vênus.”
Mas, vai que ele me responde:
“- Ah, mas, na tua placa tá escrito: Atibaia- SP.”
Aí, eu olho pra trás e há uma placa de carro pendurada em mim!
Não! Seria muita loucura!
Antes que ele me fizesse mais perguntas repetidas, me despedi falando muito, pra não o deixar retrucar, e sai andando dali rapidamente.
Terminada a leitura, lá pelas 2 horas da tarde, sentei no ponto de ônibus, suado, empoeirado, cansado, com fome e com sede, quando eis que surge a minha frente ele: o tiozinho das perguntas cretinas.
- Opa!
- Opa.
- Você já terminou?
- Já.
- Tá esperando o ônibus pra Atibaia?
Primeiro: eu sou de Atibaia!
Segundo: naquele ponto de ônibus só passa ônibus para Atibaia. Nem circular da cidade passa ali.
- Tô!
- Quantas leituras você tinha hoje?
- 513.
- 513?!!!
- É.
- E dá tempo?
- Dá. Eu comecei bem cedo.
- E já terminou?
- Sim. Tô esperando o ônibus pra voltar pra casa.
- Mas, você volta depois?
- Não, eu já terminei a leitura hoje.
- Mas, então volta outro no seu lugar à tarde pra terminar.
- NÃO! EU JÁ TERMINEI AS 513 LEITURAS DE HOJE!!!
Depois desse breve momento de exaltação da minha pessoa, abri a mochila e apanhei um livro chamado “Como Conquistar as Pessoas”. Quase enfiei o livro na minha cara pra mostrar pro tiozinho que eu estava lendo e não queria papo.
Silêncio... que durou apenas 20 segundos!
- Você gosta de ler?
- Não, minha mãe tem LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e diz que dói muito.
Ah! Peguei ele!
- O quê? Sua mãe não sabe ler?
- Ai! Esquece!
- Eu acho difícil ler.
Eu também! Ainda mais com o senhor do meu lado enchendo os pacovás!
- Eu tô acostumado desde criança.
- O que você tá lendo?
- “Como Conquistar as Pessoas”?
- Pra quê?
- Pra tentar me relacionar melhor com as pessoas.
- Com todas as pessoas?
- Ah... Talvez. E por que não?
- Mas, com todas as pessoas?
- É! COM TODAS AS PESSOAS! - voltando a ficar irritado.
- E você acha sinceramente que dá pra se relacionar bem com TODAS as pessoas?
Fiquei olhando pra cara daquele infeliz, com a pergunta dele ecoando na minha mente. E acho que se o meu ônibus não tivesse chegado naquele exato momento, eu teria jogado o livro no lixo.
E agora eu pergunto a você: teria ele razão?