quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

" O Engatador"

Numa longínqua noite de sábado, quando eu tinha 12 anos e ainda acompanhava minha mãe à missa, estávamos voltando para casa a pé, quando percebi que havia um sujeito nos seguindo.

- Mãe!

- O quê?

- Tem um cara seguindo a gente.

- Onde?

Quando ela se virou, ele havia sumido.

Continuamos andando e algum tempo depois, ele reapareceu.

- Mãe! Olha!

Tarde demais, o cara possuía a habilidade do Mestre dos Magos pra desaparecer.

- Pára de graça!

- Mãe, é sério!

- Você anda bebendo?

- Claro que não! Isso só vai acontecer daqui a 20 anos, quando eu tiver um blog.

- Um o quê?

- Esquece, mãe, ainda não inventaram. Eu acho...

Com 12 anos é óbvio que eu não bebia. E também não era médium. De modo que aquele cara não era um fantasma. Era real.

Ele era alto e forte e seu rosto era idêntico aquele personagem Wally, do livro “Onde está Wally?”

Nesse livro havia vários desenhos de pessoas e o desafio era você encontrar o Wally no meio deles. 


Este é o Wally:






Encontre o Wally:






Seguimos em frente. Eu temia por mim e por minha mãe. O que aquele ser bizarro queria com a gente?

De repente, o perseguidor fez um gesto que me deu certeza absoluta que o negócio dele não era com a minha mãe: olhando fixamente pra mim, o cara deu uma segurada na sua parte íntima e uma forte mexida, como se mudasse a marcha de um carro com a embreagem ruim.

Encontramos um policial e eu, apavorado, contei que havia um cara nos seguindo. E então o “Wally” sumiu de vez.

Dias depois, estava eu voltando de um aniversário na casa do meu amigo Danianderson, quando, na mesma Praça da Igreja, ouço um “psiu”. Quando olho, lá estava ele com a mão nos “países baixos”.

Eu cheguei em casa tão rápido que até hoje tenho dúvidas se corri muito ou me teletransportei.

Fiquei com vergonha de contar pra minha família e acabei falando pra alguns amigos, entre eles, o Oscar.

E é claro que quando contei da “troca de marchas” o Oscar quase morreu de tanto rir. Mas, logo percebeu que o negócio era sério. Então, começamos a espalhar pra galera e a andar em bandos, para minha proteção.

Mas, não adiantou nada. O cara, todas as vezes que me via, fazia aqueles gestos obscenos olhando pra mim.

E foi por causa da sua “troca de marchas” que o apelidamos de “O Engatador”.

Pra piorar a situação, o cara trabalhava numa loja cujos fundos davam para a quadra de esportes do clube que eu e meus amigos jogávamos basquete. Da janela, o cara ficava fazendo “psius”, me chamando, perguntando meu nome, dizendo que queria “só” conversar comigo etc. Eu ficava mudo de medo e os meus amigos, todos da mesma idade, também.

Por que não jogávamos basquete na outra cesta? Porque desgraça pouca é bobagem. A outra cesta estava quebrada na época.

Você conhece alguém que aparentemente é calmo, mas, na verdade, dentro dele possui um vulcão que de vez em quando entra em erupção?

Prazer! Eu sou desse tipo.

Pois bem, certo dia, Oscar e eu estávamos jogando basquete quando O Engatador apareceu na janela. Ele começou com suas gracinhas e eu fiquei com a cara muito fechada, muito sério.

O Oscar conta essa história pros outros até hoje e, segundo o relato dele, nesse dia, eu estava acertando todas as cestas, numa espécie de concentração que beirava o transe e que talvez só Michael Jordan conseguisse alcançar nos momentos decisivos das partidas.

E o Engatador falando...

Meu desempenho na quadra de basquete estava cada vez mais impressionante. Tivesse um olheiro da NBA ali, eu tava feito. Houve um momento em que o Oscar achou que eu, com 12 anos e 1, 56m de altura, poderia enterrar.

E o Engatador falando...

De repente, peguei a bola de basquete e joguei com toda a minha força em direção a janela em que o Engatador estava. A bola explodiu na grade de proteção e eu explodi em palavrões e insultos de todos os tipos em direção aquele pedófilo que me xavecava.

- Eu vou te pegar, moleque!

- Vem aqui se você for homem, seu filho da p*#@!!! Eu vou macetar você com as minhas mãos!!!

Nunca vi o Oscar com os olhos tão arregalados, parecia a Marge Simpson.

Como eu não parava de xingar e gritar, o Engatador sumiu dali.

E eu nunca mais o vi... Até que...

Dias atrás estava conversando com um amigo na rua, quando o Engatador passou e o cumprimentou.

- Você o conhece? – perguntei.

- Conheço, trabalhou comigo.

Fiquei sabendo do seguinte: o Engatador havia se convertido a uma rigorosa religião e havia se casado. Inclusive, a mulher de saia e buço assustador que o acompanhava era sua esposa.

Fosse eu vingativo e ele iria ver: colocaria uma berinjela de Itu dentro da calça e quando ele estivesse saindo de terninho da sua igreja eu diria o seguinte:

“- Ei! Psiu! Vem aqui! Eu só quero conversar com você!”

E daria uma sacudida na berinjela.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Tudo é uma questão de contexto

Quando você era um bebê, após cada mamada, sua mãe ficava batendo nas suas costinhas até você arrotar.

Hoje, se você arrota à mesa após o almoço, corre o risco de levar uma panela de pressão fervendo na cabeça, acompanhada de frases como:


“Porco!”
“Nojento!”
“Sem educação!”
Etc.

Já na cultura árabe, quando você arrota após uma refeição, significa que você gostou tanto da comida, que acabou comendo mais do que podia, sentindo a necessidade de arrotar.

Em outras palavras, indica satisfação.

Tinha um amigo que era capaz de dizer qualquer palavra arrotando. Uma vez, apostamos se ele era capaz de soletrar arrotando a palavra “inconstitucionalidade”. Ele disse arrotando letra por letra. Era um verdadeiro gênio do arroto. Mas, era péssimo em Língua Portuguesa e no lugar da segunda letra “c” da palavra, ele me colocou um “ç”.

Perdeu a aposta e nunca mais arrotou de tanta insatisfação.

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Graças a internet, a gente consegue se comunicar com uma pessoa do outro lado do mundo. Por isso, ouvimos tanto aquela frase: “A Internet aproxima as pessoas”.

Mas, há controvérsias...

Você viaja e fica um tempo sem ligar o computador. Na volta, descobre que há três semanas NINGUÉM entra no seu Orkut.

(Aliás, que frase é essa, não? “Ninguém entra no seu Orkut.” Não sei por que me veio à cabeça a imagem de um supositório.)

Aí, você vai pro Facebook, que tá mais na moda. Você vê ali que tem uma publicação no seu mural. Na verdade, um amigo respondeu uma pergunta sobre você: “Defina Paulo Sergio em uma palavra”. A pessoa responde: “Saudade!”

Puxa, que bacana! As pessoas ainda se lembram de mim. Mas, cadê o olho no olho, o toque na pele, o cheiro, o calor, o abraço, o beijo no rosto? Não tem!

As pessoas estão todas na correria (inclusive eu). Trabalham feito máquinas, correm o tempo todo atrás de dinheiro e mesmo quando mexem no computador, o fazem no meio do trabalho.

Eu quero encontrar os meus amigos, conversar besteiras, conversar sério, rir muito, chorar no ombro, enfim, ter contato humano.

Minha amiga disse que seu namorado vivia adicionando meninas diferentes no seu Orkut a cada dia.

- Quem é?

- Conheci na academia. – ele respondia.

Ela não gostava, mas ficava na dela. Certo dia, viu uma loira bonitona toda insinuante pra cima do seu namorado. Dessa vez não aguentou e reclamou:

- Na boa, essas garotas que você está adicionando no seu Orkut estão me incomodando.

- Que garotas?

- Aquelas da academia. E principalmente essa loira chamada Desirré.

- Ah, não! A Desirré não é da academia.

- É de onde, então?

- Não sei, nem conheço. Ela pediu pra adicionar, eu adicionei.

Depois do Orkut, é claro que eles conversaram no MSN. E não ficou só nessa “paquerinha virtual”. Descobriram que moravam perto e a curiosidade de se conhecerem pessoalmente cresceu tanto, que resolveram marcar um encontro “ao vivo”.

Minha amiga e o seu namorado se amavam. Ele se arrependeu do encontro, mas, já era tarde. Minha amiga descobriu tudo e por ter perdido a confiança nele, terminou o namoro.

Nesse caso, a internet aproximou duas pessoas... que não se conheciam.

Mas, também, afastou duas pessoas... que se amavam.