domingo, 18 de setembro de 2011

Barraco no Motel




Certo dia, ou melhor, certa noite, estava saindo do motel com uma pessoa e assim que tiramos o carro da garagem percebemos que gritos muito altos de um homem e uma mulher vinham de um quarto bem à frente.

- Opa! O negócio ali está bom!

Mas, prestando atenção, percebemos que não se tratavam de gritos e gemidos de quem estivesse tendo uma noitada selvagem de amor. O casal estava discutindo feio!

Ouvimos o barraco por alguns minutinhos e saímos dali dando risada da situação. Mas, o melhor ainda estava por vir. Quando passamos na cancela da saída, estávamos esperando a vistoria no quarto para fazer o pagamento, quando ouvimos a outra atendente dizer ao telefone:

- Desculpe o incômodo. Quarto 52, correto? Então, parece que está havendo uma discussãozinha aí e os outros clientes estão reclamando. Será que dá para vocês brigarem um pouquinho mais baixo? Obrigada!

Como assim brigar mais baixo???

É claro que a partir daí, passei a imaginar histórias na minha cabeça...

Imagina os outros clientes incomodados com a briga:

- Poxa, Cleber, o que está acontecendo com você hoje?

- Poxa, Marta. Você não tá ouvindo a briga aqui do lado?

- Tô. Mas, se concentra, vai!

- Tô tentando.

O casal recomeça. Ele está quase atingindo seu objetivo, quando ouve algo que o desconcentra de vez.

- O que foi agora, Cleber?

- Você não ouviu?

- O quê?

- Ela o chamou de “broxa”.

- E o que você tem a ver com isso? – ela olha pra baixo. – Ah, já entendi. A carapuça serviu...

Eu fico imaginando o que leva um casal a pagar pra ir ao motel e começar uma discussão.

- Vai, Valéria. Agora você passa a mão aqui por trás... Não, essa não, a outra...

- Assim?

- Isso! Agora, estica a perna direita, não, a esquerda. É acho que é a esquerda mesmo. Esterça a pélvis para o lado. Isso, encaixa.

- E agora?

- Agora, mexe.

- Não dá.

- Como não dá. Tá aqui no livro. Olha... Ai, merda. Derrubei o Kama Sutra. Desencaixa que eu vou ter que pegar o livro pra conferir a posição de novo.

- Não, dá.

- Como não dá?

- Entalou?

- Vai Valéria, deixa de ser lerda.

- Não me chama de lerda.

- Mas, é lerda mesmo. Tô falando do jeito que tem que fazer a posição, tô mostrando a fotografia, e você não acompanha.

- Mas, também, você vem com esses malabarismos aí pra cima de mim. Isso é sexo ou treinamento pro Circo de Soleil?

- Qual é?! Você vivia reclamando que a gente precisava sair da rotina na cama e agora que eu dei um jeito você fica reclamando? Ah, vá pra Put...

- NÃO ABAIXA O NÍVEL, NÃO!!! NINGUÉM TÁ FALANDO PALAVRÃO AQUI!

- AH, É? AH, É? E QUEM É QUE TÁ GRITANDO? SOU EU?

- TÁ GRITANDO SIM!

- AGORA EU TÔ MESMO!

- VOCÊ É UM CAVALO!

- Obrigado! (irônico)

- Hahaha! Não seja ridículo!

- Que foi?

- Você só é cavalo na hora de dar coice, porque de resto...

- Ah, minha filha. Nunca ninguém reclamou. Muito pelo contrário. Sempre recebi elogios e pedidos de bis.

- Hahaha! Faz-me rir.

- Ah, é? Ah, é? Se eu não te satisfaço, porque é que você continua comigo então?

- Porque eu sou uma burra.

- Some então. Vai! SOME DA MINHA VIDA PRA SEMPRE SUA VACA!

- EU VOU SUMIR ASSIM QUE EU SAIR DAQUI! E VOCÊ NUNCA MAIS VAI VER A MINHA CARA, SEU BROXA!

- CALA A BOCA OU TE DENUNCIO POR CALÚNIA!

- BROXA! BROXA!

- PÁRA DE GRITAR, SUA LOUCA!

- BROXA!

O casal continua discutindo, dizendo palavras de baixo calão e gritando cada vez mais alto. Até que o telefone toca.

- Ai, mais essa agora... ATENDE ISSO, JUNIOR!

- NÃO DÁ! Tá mais perto de você.

- INFERNO!

Com os dedos dos pés, ela consegue atender ao telefone e, por incrível que pareça, colocar no ouvido.

- Sim, é do quarto 52. Ah, Desculpe! (Que vergonha!) A gente vai parar de discutir sim... Viu, moça, será que dá pra você dar um pulinho até aqui? É que a gente tá com um pequeno probleminha... Como?... Produtos eróticos?... Consolo de borracha?... Ah, não. Não estou falando do “probleminha” do meu namorado. É que ficamos enroscados e... Como não dá?... Regra do motel? Mas, escuta, nós estamos enroscados, é sério!... Tá bom, tá bom! Eu dou um jeito.

Desliga o telefone e com os dedos do outro pé, ela consegue discar para o Corpo de Bombeiros.

Depois de explicada a situação e enquanto esperam enroscados e em silêncio a chegada do socorro, o namorado pergunta:

- Valéria.

- Oi.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Já fez.

- Outra.

- Pode.

- Como você teve tanta flexibilidade pra atender ao telefone e ainda por cima conseguir ligar para os bombeiros?

- Ah, é que eu já fui contorcionista.

- ENTÃO POR QUE VOCÊ NÃO MEXEU NA HORA QUE TINHA QUE MEXER?

- NÃO GRITA COMIGO!

E a discussão no motel recomeça, para desespero dos casais ao lado.


domingo, 4 de setembro de 2011

Moleque folgado


Jeferson, um garoto de 14 anos, caminha pela rua quando é abordado por dois policiais:

- Mão na cabeça, moleque! Encosta na parede e abre bem as pernas.

Enquanto um policial faz a revista, o outro começa o interrogatório:

- Tá indo pra onde?

Sem demonstrar medo, o garoto responde com a voz firme:

- Pra casa da minha avó.

- E tá vindo de onde?

- Fui buscar uns bagulhos.

- BAGULHOS?o policial anda em direção a Jeferson e quase o espreme na parede. Com o rosto a alguns centímetros de distância do garoto, ele pergunta: - Que bagulhos?

E o garoto, que apesar de magricela não tem medo de encarar ninguém, responde:

- Farinha e erva.

O policial fica irado com a petulância daquele menino:

- Você tá de brincadeira comigo?

- Não.

- CALA A BOCA!!! Cadê os “bagulhos” que você foi buscar?

- ...

- RESPONDE!!!

- O senhor não me mandou calar a boca?

O policial dá um tapa na cara de Jeferson que derruba a sacola com a farinha e a erva dentro da boca de lobo. O garoto só não apanha mais porque o outro policial, que até então estava quieto, impede o seu companheiro nervoso de prosseguir:

- Calma, Lopes.

- Que calma?! Você não tá vendo que este moleque é folgado? Vem falar na minha cara que foi buscar “farinha” e “erva”? Tá pensando o que? Que eu tô aqui de brincadeira? Ah, mas, ele vai ter o que merece.

Os policiais colocam o garoto na viatura e o levam pra delegacia. Só Deus sabe o que se passa por lá...

Enquanto isso, dona Benedita, a avó de Jeferson, espia a rua da janela:

- Mas, onde será que esse menino se meteu? Já faz mais de uma hora que mandei ele buscar farinha e erva-doce pra eu fazer um bolo de fubá e ele não voltou até agora. O moleque folgado viu!?