Noé, o único homem justo da Terra em sua geração, tinha planos de descer pra Praia Grande no feriadão. Contudo, após assistir a Rosana Jatobá anunciar a previsão do tempo no Jornal Nacional, teve que mudar de ideia: era previsto um dilúvio no final de semana.
- Pobre é uma merda mesmo! A gente vive só trabalhando. Aí, quando consegue juntar um dinheirinho pra levar a mulher e a criançada até a praia, chove. Ah, pelo amor de Deus viu! - Reclamava Noé, quando o telefone tocou.
- Não vai atender? – perguntou sua esposa.
- Atende você. E se for o cobrador das Casas Bahia de novo, diz que ele ligou pro número errado.
- Alô! Ah, sim. Só um minuto. É pra você.
- Quem é?
- Deus.
Deus disse a Noé que iria destruir o mundo por causa da perversidade humana e, como tinha um xodó por ele, mandou que construísse um grande navio para salvar a sua família e um casal de cada espécie de animal.
- Mas, Senhor, o que eu faço com a baleia?
- Meu filho, as baleias não precisam ser transportadas na Arca, pois elas sabem nadar, seu cabeção. – respondeu Deus.
- Não, senhor. Eu falo da baleia da minha mulher. Vou ter que levar esse bucho comigo? Será que não tem como o senhor quebrar o meu galho e eu partir sozinho. Tipo assim: depois que as águas baixarem, eu vou parar numa ilha e encontro uma índia de corpo escultural, saca Pocahontas? Então, e aí a gente povoa a Terra de novo... Que tal?
Deus, caso não fosse Deus e não tivesse a paciência suprema, diria nessa hora: “Ai, meu Deus do céu! Aja paciência!” Mas, apenas respondeu: - Não rola!
Com o telefone da madeireira em mãos, Noé fez a encomenda do material.
Não se sabe ao certo, como ele conseguiu construir uma Arca tão grande em apenas uma semana. Mais estranho que isso, foi à loja de material de construção ter entregado sua encomenda com tanta rapidez, apenas 15 minutos após ter sido feito o pedido.
Coisa de Deus mesmo.
Na sexta-feira à noite, Noé colocou sua família e todos os casais de animais em sua Arca , inclusive a baleia.
No sábado, por volta do meio-dia, o céu começou a escurecer. Com apenas 5 minutos de chuva, todas as casas da redondeza ficaram submersas, o que leva muitos estudiosos bíblicos a acreditarem que Noé e sua família moravam na grande São Paulo. (Ou quem sabe no Parque das Nações, um bairro aqui de Atibaia).
O problema maior de Noé durante a viagem foi, primeiro: dar ração para aquela bicharada toda.
Segundo: livrar-se de tanta bosta acumulada!
Dizem inclusive que quando Noé despejou todas aquelas fezes animais no mar de uma vez, a merda era tanta, que deu origem a uma ilha.
Bem, a certa altura, Deus, que sempre andou muito ocupado, lembrou-se de Noé e interrompeu o dilúvio.
Noé e sua esposa, assim como Adão e Eva, tiveram a missão de povoar novamente a Terra. Não era uma missão fácil. Afinal, Noé já estava mais do que enjoado daquela baranga de mulher que era a única no mundo que lhe restara. De onde tiraria inspiração?
Até que num belo dia, um viajante do futuro vestido com um macacão branco e que era a cara do Wagner Moura chegou ao vilarejo onde Noé morava. O tal homem trazia diversas muambas futuristas e os dois logo começaram a negociar.
- Eu tenho um celular com entrada pra quatro chips pro senhor, seu Noé.
- Xi, meu filho, o sinal aqui é péssimo. E, além disso, vou ligar pra quem?
- Pra Deus.
- Deus tá usando Nextel.
- Ah...
Conversa vai, conversa vem, o homem do futuro tirou da mochila algo que seria a solução para o problema de falta de inspiração de Noé: uma coleção de Playboys: Juliana Paes, Cléo Pires etc.
Em troca das revistas, o viajante do tempo levou para o futuro pedaços de madeira da Arca de Noé que são vendidos em certas religiões hoje em dia e ninguém bota fé.
Noé, graças às revistas, encarou a esposa e repovoou o mundo. Quando já estava velho de barba branca, começou a ver e conversar com duendes. Sua esposa, pensando que ele estava caduco, tentou interná-lo numa casa de repouso, mas, o velho Noé fugiu para outro continente.
No Polo Norte, mudou de nome: Noel. Comprou um barracão e junto com os duendes passou a fabricar brinquedos que são distribuídos às crianças boazinhas todos os anos até hoje, na véspera de Natal.