A sede da empresa onde estou trabalhando fica no final de uma longa avenida. Como a maioria dos funcionários usa uniforme e também quase todos têm que passar por essa avenida, é muito comum que pessoas que se deslocam até lá à pé, como eu, acabem pegando carona no meio desse trajeto.
Dias atrás, estava indo para a empresa quando um senhor de bigodes parou o carro do outro lado da avenida e gritou:
- Tá indo pra lá?
- Sim. – respondi.
Atravessei a avenida, entrei no carro, botei o cinto e o homem iniciou a conversa dizendo que tinha uma reunião importante lá.
- Escuta, que horas você entra no trabalho?
- Bato ponto as 7:30h.
- E dá tempo?
- Ah, sim. Já estou acostumado a andar rápido todos os dias. Em quinze minutos dá tempo de sobra de chegar lá.
Passamos em frente a empresa que trabalho. Mais adiante, ficava o retorno obrigatório.
Mas, o homem passou também pelo retorno...
Comecei a achar aquilo muito estranho. Seria ele um sequestrador mandado pela minha ex-mulher?
- Olha, o senhor tá indo pra onde?
- Tô indo pra lá.
Meu Deus! Onde era o “pra lá” dele? Comecei a olhá-lo disfarçadamente. Não tinha cara de sequestrador. Nem de maníaco sexual com fetiche por uniformes. O que estava acontecendo então?
Já estávamos entrando na pista.
- Mas, o senhor vai “pra lá” por aqui?
- Sim. Mais adiante tem um retorno.
- Mas, nós acabamos de passar por ele.
O homem torceu o bigode. “Pronto!” – pensei – “Agora ele vai sacar a arma e dizer que é um assalto.”
Mas, peraí! Quem tava de carro era ele. Se fosse pra rolar um assalto quem teria que assaltar era eu, que estava a pé. Tinha alguma coisa errada ali. De repente ele perguntou:
- Mas, você tá indo pra onde?
- Eu tô indo pra Elektro (que ficava bem lá atrás, na grande avenida). E o senhor?
- Eu tô indo pra Mercotubos (que ficava bem lá na frente, na Rodovia Dom Pedro).
Depois de dar uma boa gargalhada, o homem disse:
- Puxa vida! Confundi o seu uniforme com o do pessoal que trabalha na Mercotubos.
Provavelmente, o uniforme deles deve ser amarelo gema ou vermelho sangue.
E o meu é azul marinho.
Não é a primeira nem a última vez que alguém me confunde com um profissional de outra área. Já me chamaram de leiturista da água, carteiro, policial, vendedor de zona azul e até juiz de futebol.
Ser leiturista tem dessas coisas. Ainda bem. Pois rende boas histórias!