- Bom dia, amor!
- Oi.
- Que foi, Carol?
- Nada.
- Você tá brava? Aconteceu alguma coisa?
- Não.
Marcos liga o carro e eles seguem viagem em direção ao litoral. Depois de 20 minutos de silêncio, Marcos pergunta novamente:
- Carol, eu te fiz alguma coisa? Eu falei alguma coisa ontem à noite que você não gostou?
- Não.
- Você tá tão séria. Tão calada. Eu tô preocupado.
Carol continua muda e sem olhar pro namorado.
Marcos disfarçadamente respira fundo. Em seguida, olha pra namorada e com um sorriso pede:
- Amor, coloca um CD legal pra gente ouvir.
- Coloca você.
- Oh, amor, eu tô dirigindo.
Carol dá uma bufada.
- Então escolhe você.
- Coloca... Deixa eu ver...
- Escolhe logo, Marcos!
- Calma, Carol. Eu tô pensando...
- Deixa que eu escolho, vai. Que saco!
Marcos foca no trânsito. Carol coloca o CD da Madonna e não pára de mudar de música.
- Ai, esse CD é o Ó! Só tem música velha.
- Carol, é o CD da Madonna com sucessos nos anos 80 e 90. Você queria o quê?
Carol olha com ódio para Marcos. Arranca o CD e cruza os braços. De repente, começa a chorar.
- Carol? O que foi?
Carol não responde e chora ainda mais alto. Marcos dá a seta e pára no posto de gasolina.
- Carol, o que tá acontecendo?
- Você não precisava ser grosso comigo daquele jeito (chora).
- Mas, amor, eu não fui grosso com você. Eu só falei que o CD era de sucessos do passado.
Carol grita:
- NÃO ME CHAMA DE AMOR!
Com raiva, ela seca as lágrimas com as mãos e volta a ficar séria. Marcos liga o carro e eles seguem viagem. Ele decide não perguntar mais nada. Carol dorme. Algumas horinhas depois, eles chegam à praia.
- Carol, acorda. Chegamos.
Carol espreguiça e questiona:
- Por que você não tá me chamando de amor? Eu gosto tanto...
- Ué? Você não me pediu pra não te chamar assim?
- Não vem com historinha não, Marcos. O que é que tá acontecendo?
- Como assim?
- Por que você não tá me chamando de amor? Já sei... (volta a chorar) Você não me ama mais.
- Mas... amor...
- Agora não adianta me chamar de amor! Não fala o que você não sente.
- Mas, eu te amo, Carol!
- Ama nada! Você já deve ter outra. Ou OUTRAS por aí. Eu não sou TONTA! Eu não nasci ONTEM! Eu não estou DORMINDO. Eu não...
- Carol, pelo amor de Deus! Pára de gritar e desce desse carro pra gente subir pro apartamento. Não vou ficar discutindo com você aqui na garagem.
- Ah, então quer dizer que você não vai ficar discutindo aqui na garagem, mas, no apartamento você vai. Porque você gosta tanto de discutir comigo? O que eu te fiz? Eu não te completo como mulher, é isso? É isso sim, eu sabia...
- Carol, pára de neura!
- Ainda por cima me chama de neurótica? Eu sou MUITO equilibrada ouviu? É você que me dá motivos pra brigar. Com sua grosseria, com sua falta de sensibilidade, com sua... Ei... Marcos, volta aqui! Eu ainda não terminei de falar.
Marcos segue até o elevador, mudo e sem olhar pra trás. De repente, Carol corre atrás dele e segura a porta que já estava fechando. Ela entra, abraça Marcos e diz com a voz suave:
- Ei, amorzão. Desculpa! Eu sei que eu tô “chatinha” hoje, mas, não é nada com você.
- O quê? (espantado)
- Não é nada com você.
- Espera aí! Você tá me dando patada desde que a gente saiu lá de Atibaia. O que você quer que eu pense? Tô rachando a minha cabeça tentando lembrar se ontem à noite eu falei alguma coisa que te chateou. Mesmo tendo certeza de que quando te deixei na sua casa, estava tudo bem entre a gente. Agora você vem falar que a culpa não é minha. Mas, o que é então?
- TPM.
- Poxa, Carol. Não acredito! Eu tentando te agradar, me sentindo todo culpado por algo que não fiz. Por que você não me falou isso antes?
- Ah, e precisa falar? Vocês homens são uns insensíveis mesmo!
Carol vira de costas pra Marcos e cruza os braços fazendo agora aquela cara de bunda mal lavada que só as mulheres com TPM são capazes de fazer.
Ainda há três dias pela frente. Que belo final de semana!
Marcos suspira profundamente e secretamente em pensamento, pede a Deus: “Senhor, na próxima encarnação, quero nascer gay”.